Luciano Aguiar

COWBOY DELMIRENSE
Quando a bondade habita a alma

IN MEMORIAM
Antônio Exalto não era “Antônio triste” do poema de Paulo Bomfim; “esguio como poste de avenida”; decência; elegância com passos curtos e firmes, o nosso “cowboy delmirense” caminhava entre acenos de carinhos pelas veredas.
Em “Viver para Contar” o escritor García Marques na sua autobiografia afiança que a vida não é cronológica, e sim, as recordações e como contá-las. O nosso Antônio Alegre, o ilustre delmirense, gostava de recordar seus dias de garoto e suas peripécias.
Tonhão foi sempre um garoto pela vida que viveu, quando entre amigos, gostava de recordar os tempos de certeiro que lhe rendeu a fama de “cowboy”. Não andava armado, mas tinha uma destreza com o revólver que lembrava os filmes de faroeste. A distância não lhe tirava olho do alvo e as garrafas postas recebiam as balas gargalo adentro tirando-lhe o fundo intacto.
Humano in natura, levou a vida nas entrelinhas a ajudar ao próximo. Os que chegavam em busca de ajuda sempre encontravam às portas abertas e por falta de remédios ninguém mingou a vida na soleira de sua casa. Era o pronto socorro dos mais necessitados, uma bandeira dos Exalto; tentou com todos os esforços, trazer para Delmiro um centro de hemodiálise; sabedor das dificuldades de quem necessita de rins artificias, para aguardar numa fila, na longa lista de espera, o nome anunciado, o retorno da felicidade plena; terminou vítima dessa lista.
Quando a bondade habita a alma, não há pecha que grude na solidez divina. Tonhão enfrentou as armadilhas da vida sempre de consciência limpa. Não aceitava mutilar os filhos para continuar vivendo. Nos últimos anos de sua vida, difíceis pela saúde abalada, não abandonou a disciplina e a organização, lema bussolar de sua existência.
Paz! Aos homens de boa vontade.
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