Aniceia Ribeiro

Sófocles, Shakespeare e a Sabedoria Estratégica da China
A sabedoria do povo chinês constatou que, para se reconstruir, eram necessários projetos estratégicos de longo prazo

Édipo é uma personagem do Dramaturgo Sófocles. Édipo não sabia quem realmente era, e não conhecia sua história. Por não se conhecer, não sabia que o homem com quem brigara e tirou-lhe a vida era seu pai. De igual maneira, por não se conhecer, não sabia que a mulher com quem se casaria, na verdade, era sua mãe. Édipo é uma tragédia que poderia ter sido evitada se ele soubesse quem era. Bastaria um pouco de conhecimento, e ele não teria perfurado os próprios olhos ao descobrir quem era o homem com quem havia brigado, e a mulher com quem havia se casado. Quem sou? Essa é a pergunta fundamental que Édipo nos deixou.
Hamlet, é uma personagem da peça teatral de Shakespeare, que tem o mesmo nome. Hamlet, diferentemente de Édipo, sabe quem é. Sabe quem são seus pais. Não há dúvida sobre isso. Hamlet é extremamente inteligente, mas não sabe o que fazer com o conhecimento que tem e se perde nos labirintos da própria mente. Coloca em dúvida sobre quais caminhos seguir, e é daí que surge a expressão: “ser ou não ser, eis a questão”, ele enreda todos a seu redor em um processo mental que termina por causar a morte de todo mundo, inclusive a sua. Apenas saber quem somos não resolve nada. Temos também de saber o que sabemos. O que eu sei? Essa é a pergunta fundamental que Hamlet nos deixou.
E a China? A China tem uma história milenar, com uma civilização que remonta há mais de 5 mil anos, sendo o povo mais antigo do mundo e tendo já sido uma das maiores economias do mundo. No século XIX, tinha um PIB que, segundo dados, equivalia 32% do PIB mundial. Entretanto, nesse mesmo século, viveu o chamado, “século das humilhações”: perda de territórios, fome, pobreza, guerras imperiais, a constar, por exemplo, a invasão dos ingleses, que passaram a explorá-la. Esse foi um período em que a China esteve destruída, desorganizada, colonizada, e perdeu a direção. Mas foi a partir desse cenário que ela começou a traçar, estrategicamente, seu “recomeço”.
A sabedoria do povo chinês constatou que, para se reconstruir, eram necessários projetos estratégicos de longo prazo, que versariam sobre a busca contínua em eliminar a pobreza, melhorar o desenvolvimento econômico e investir maciçamente na produção de ciência e tecnologia. E foi assim que a China deu um salto educacional, tecnológico e industrial, inovando e se modernizando, e passou de uma civilização que lutava pela sobrevivência para uma civilização em ascensão, posicionando-se novamente entre as maiores potências globais.
O que fazer com o que sabemos? Essa é a pergunta crucial que a China, ao se reconstruir, nos deixou.
De certa forma, a vida humana gira em torno dessas três perguntas. São como pontos essenciais de nossa existência. Não basta apenas saber "quem somos?", é preciso também saber “o que sabemos” e, talvez, a mais importante: conseguindo responder às perguntas anteriores, conseguiremos fazer uso prático com o que sabemos. Foi o que a China fez para se reerguer, e, atualmente, se mover de maneira eficaz, desempenhando um papel relevante no cenário internacional.
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