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Planejava apresentar-me hoje com a elegância de um dândi literário, à altura da luxuosa vizinhança de Aniceia Ribeiro, Bruno Mafra, Luciano Aguiar e demais companheiros. Acontece que nossos políticos insistem em roubar (epa!) a cena – e brincar com o nosso rico dinheirinho.

Diante disso não me restou alternativa a não ser abrir novamente minha velha caixa de ferramentas, desta vez para tentar desmontar a máquina de cortes na nossa alma que se instalou no Congresso.

Na Atenas de Péricles, onde nasceu nossa ideia de democracia, havia uma divisão simples: políticos (os interessados pelos destinos da Pólis) e idiotas (os indiferentes à coisa pública). Três mil anos depois, a terminologia permanece atual – só que os idiotas mudaram de lado e agora ocupam altos cargos.

O senador Ângelo Coronel (PSD-BA) – cujo nome parece ter sido tirado da commedia dell’arte – esmera-se em relatar o orçamento como Nero tocava lira enquanto Roma ardia em chamas: com olímpica e total indiferença. Sua proposta de corte de 80% na Lei Aldir Blanc, mágica besta que transforma R$ 3 bilhões em mísera migalha de R$ 478 milhões – o equivalente cultural a trocar o Teatro Amazonas por um palco de isopor.

É triste, mas não é novidade. É a confirmação do jeito direitista de enxergar o mundo. Hitler queimava livros, Mussolini perseguia artistas, Franco censurava, Bolsonaro extinguiu o Ministério da Cultura, Trump está cortando verbas das artes. O roteiro é conhecido: a direita troglodita sempre ataca a cultura em primeiro lugar. Por quê? Simples: gente que pensa é perigosa. Povo que cria é ingovernável.

Enquanto isso, na velha Vila da Pedra:

• O Artista que sobrevive graças aos Editais (voltarei ao assunto em outra coluna), corre o risco de virar mototaxista;

• Manifestações tradicionais como o Coco de Roda da saudosa dona Anísia se desfazem porque "não tinha mais como"...

Aos artistas delmirenses e regionais: nosso espetáculo será na rua. Nosso palco, as redes sociais.

Nossa Arte, a resistência. Sugiro:

1. Resistir nas redes;

2. Redigir uma Carta aberta à Câmara de Vereadores e ao Conselho Municipal de Cultura, convidando-os para juntarem-se a nós (quero uma cópia!);

3. Promover um grandioso Sarau dos Idiotas, com direito a farta distribuição de coroas de lata aos políticos que, por ação ou omissão, retalham a alma do nosso povo e microfone aberto para quem ainda acredita em Poesia.

Encerro lembrando o grande Nelson Rodrigues, cronista, escritor e dramaturgo, que certa vez nos alertou: "O grande acontecimento do século vinte foi a ascensão espantosa e fulminante do Idiota". Hoje, o idiota não apenas ascendeu – está no gabinete, com caneta na mão e o orçamento no bolso.

O alerta de Nélson era uma profecia.

P.S. Enquanto revisava este texto, descobri que o orçamento para compra de cartuchos de impressora da Câmara dos Deputados em 2023 foi maior que toda a verba da Lei Aldir Blanc em 2025. Evoé!

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