Imagem ilustrativa

O corredor da residência número 544, da rua do Macena, nos fundos do Palácio dos Martírios, era longo, estreito e marchetado por uma fila de ombreiras entreabertas, e uma claraboia esférica na cozinha/copa, por onde nenhuma alma viva transpassava o vão às escondidas.

Fisgada de surpresa como uma piaba à toa num regaço da sombra do bambuzal, num começo da tarde de um domingo, quando as ombreiras estavam todas lacradas, Aurelina, a víbora da família, sentiu falta do agregado João Manam que regressou para Fazenda Bom Regalo “sem mais nem menos”, no dizer da velha, no meio do dia, quando surrupiaram a carteira de Noêmia, a irmã secundarista.

As investigações começaram e terminaram na privada. O suposto larapio, astuto como um cão às escondidas, enterrou o osso sem tutano no vão da pontaria; acharam a carteira vazia e a lixeira sem papel moeda. Na ausência, João Manam foi incriminado pela intuição propositada da velha peçonhenta.

Precisando de um suspeito para mascarar o furto interno, a família da casa do Macena, de forma medonha, montou o cerco na feira livre que se realizava aos domingos para atender aos trabalhadores do entorno das Usinas de açúcar.

Agiram como num combate, posicionando-se e vasculhando cada canto entre as barracas, seguindo as orientações de um chumbeta guia. Localizaram João Manam, e de forma sorrateira, fecharam o cerco dando-lhe voz de prisão.

“Deu-se a pena”. Dias depois, à noite, na ronda policial costumeira, com seu bamboleio, João Manam comandava em passos de saltos miúdos pelas ruas da cidade o Batalhão, balançando o molho de chaves, anunciando aos transeuntes: agora sou o carcereiro.

CRIA!

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