Seja bem-vindo
Delmiro Gouveia,25/04/2025

  • A +
  • A -

Luciano Aguiar

O PIAR DE “MARIA OIÃO”

A ausência do contador de histórias

Imagem ilustrativa
O PIAR DE “MARIA OIÃO”

Na imensidão da noite, o jovem contador de histórias de Trancoso, Paulo Alípio, costumava andar a passos curtos pela rua da floresta, com ouvidos e olhos atentos, rastreando o mundo dos insetos em busca de tanajuras e gafanhotos de sobretudo verde, asas vermelhas embutidas e esporas múltiplas.

Com o início de um inverno tenebroso, o redemoinho de besouros ofuscava as lamparinas; apenas os vultos eram visíveis à distância no esquisito da floresta. Paulo Alípio teimava e nutria um desejo íntimo e medonho de esbarrar com as histórias de "ouvi dizer" de “Maria OIÃO”, uma bela e ordinária roceira que costumava maltratar a mãe e, em luas cheias intercaladas, corria bicho.

Numa certa lua cheia do mês de Santana, nas mediações da residência do Dr. Assis, o caçador teve uma surpresa medonha, não só viu, como passou a noite encurralado num poste a meia haste até o amanhecer, por uma porca ciclope de garras afiadas. Diante do medo e da constatação da verdade dos mais antigos; Paulo entrou em êxtase, desapareceu da convivência social e dos ouvintes de suas sagas, começou a frequentar a igreja em segredo porvindouro.

A ausência do contador de histórias e sua assiduidade à Matriz para se confessar com o reverendo Vilas Boas despertou os seus ouvintes. Entre eles, escolheram o galego coroinha para investigar os segredos de Paulo por intermédio da zeladora dos afazeres da Igreja, Dona Nazaré.

O galego coroinha, bem-quisto pelo Reverendo e de inteira confiança da cúria, sutilmente extraiu a verdade quase que em absoluto daquele poço de silêncio de cinco décadas. No vai e vem do burburinho, a zeladora relatou o ocorrido na rua da Floresta, e muito mais, confidenciou ao coroinha o pedido de “Maria Oião” ao contador de histórias, pedindo pelo amor de Deus ao coroinha que escondesse a língua num lugar seguro; pois o reverendo passou a acreditar que Paulo estava desorientado, mas que deixaria ele retirar o ninho de uma rasga mortalha no alto da sacristia, um pedido da Porca como forma de perdão, e não mais correr bicho nas luas cheias pelas ruas da cidade.

Com os olhos injetados em brasa, pela terrível noite de insônia, induzida pelo sinistro pedido de Maria Oião, o coroinha, com a impaciência de um animal enjaulado, não via como repassar os segredos de confissão para os colegas; quando, de repente, o sino replicou numa cadência própria de anunciação de morte. Saiu às pressas em direção à matriz e, ao chegar nas escadarias, vislumbrou uma cena terrível: Paulo Alípio morto, banhado em sangue e espetado pelas costas nas grades da sacristia. Ao remover o ninho, espantou-se com o piar da coruja e despencou, configurando a cena de São Sebastião flechado pelo avesso.


CRIA!
         
INTERSECÇÃO COM AS PUBLICAÇÕES (SEMANAL) EDITORA GUIA +

DESDE DELMIRO
“A TRAIÇÃO É ARMA DA INTRIGA”
SUSPENSÓRIO 
"IOIÔ SOBE E DESCE"
TRUMPEIRA 
"O LIMITE É A COCHINCHINA"
GASPAZINHO
"O FANTASMA ENGAVETADO”  
SEM ALÇAR
"O PESO DO VOTO:
ANISTIA À VISTA
"A BAGUNÇA CONSTITUCIONAL"
SOS
"SURTO DE HÉRNIA"
CASA GRANDE
"A HORTA DA ROSA"
DANTES
"NO MERCADO PÚBLICO"
PROMI$$ÃO
"DEPOIS DE PELADA ACHARAM O OURO"
PRESO!
"MANDADO EM ABERTO"
BOLA DE OURO
"RECOSTURANDO A COURAÇA"
SANTA CÂMARA
"FURARAM OS OLHOS DE LUZIA"


A opinião de nossos colunistas não reflete necessariamente a opinião da Editora Guia Mais.



COMENTÁRIOS

LEIA TAMBÉM

Buscar

Alterar Local

Anuncie Aqui

Escolha abaixo onde deseja anunciar.

Efetue o Login

Recuperar Senha

Baixe o Nosso Aplicativo!

Tenha todas as novidades na palma da sua mão.